20 May
20May

Há quem escreva todos os dias, com disciplina e afinco. Há quem escreva só quando tem tempo livre. Os tempos da escrita de cada um são tão particulares que é impossível seguir o ritmo do outro, só porque aquele outro diz que é importante, que é certo, que é isso ou aquilo. No fundo, cada um sabe do seu tempo e acomoda a escrita como pode e consegue.

Eu costumo escrever em tempos caóticos. Quando a vida me dá um tranco, eu escrevo. Talvez para compreender, talvez porque a solidão me ajude a pensar, talvez porque a emergência me acenda uma luz de ideia, não sei bem. Só sei que em tempos difíceis, as palavras são minhas boas companheiras e então aproveito. É na turbulência que nascem poemas, é na dor que emergem livros inteiros da minha cabeça.

Nos últimos meses passei por inúmeras internações hospitalares. Com minha saúde delicada e a vida por um fio, mais uma vez a escrita me deu sua mão e me salvou do desespero. E eu acredito que a Arte tem mesmo essa função. Como disse Nietzsche, a Arte existe para nos salvar da verdade. E para mim a única verdade é a morte.

Deixo aqui alguns poemas dos últimos dias. Quero compartilhar a beleza que pode surgir da adversidade e que a escrita pode ser um bom remédio para a alma.

Courage

Olho para o lado.
As luzinhas me acendem uma palavra.
Coragem.
Penso na valentia e bravura de ser vulnerável.
Registro um verso nascido do meio da dor e do milagre.
É na teimosia que vou fazendo o caminho.
Ouço só os meus barulhos.
Bate forte.
Coração e desejo são a mesma carne.
Sigo insistindo.

 

Sunrise

A persiana recorta o nascer do sol.
Eu o toco com as retinas e rompo em vontade
: de correr outros destinos
pedalar cabelos vento ar da manhã.
Na fragilidade do meu respiro eu guardo planos.
Ainda que.

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